mar_maior_01

be rgb
3 min readJan 15, 2020

--

(Ponta das Campanhas, FLN/SC)

F. S.

(começo no domingo 17/11/19 às 19h, registro na terça 19/11/19 às 11h | pra viagem até SP saindo de FLN, levarei duas garrafas, e elas são compradas numa promoção que baixa de 26 pra 18 cada caso sejam levadas juntas, a primeira pra F. S., a segunda pra L. | tomo metade da primeira lendo “Heterossexualidade Compulsória e Existência Lésbica” da Adrienne Rich e, como me baqueia, deito cedo, acordo 6h, trabalho e às 12h10 sigo no 847-TITRI–TIRIO saindo da Rua Lauro Linhares pra depois pegar o 564-Pântano do Sul e desço na praia da Armação, onde levei F. quando ele me visitou pro lançamento da Macondo | no caminho, vou ouvindo uma playlist chamada “Floripa-PoA por F.”, feita de todas as recomendações de músicas que ele me passou quando seguimos por 6h na estrada rumo ao lançamento em Porto Alegre, anoto as 7 primeiras que tocam e com elas escreverei um texto | em seguida ouço áudios e respondo-os enquanto caminho no calçadão da Armação, lá um maçarico-de-perna-amarela toca pra correr um teiú e as algas verdes brilham sob o sol, termino e compro uma cerveja pra atravessar o trapiche e subir à Ponta das Campanhas | na Ponta das Campanhas F. tirou fotos, uma do despenhadeiro onde o mar cuspiu em nós, outra de uma corda pra âncora | lá no canto de ângulo quase certo às costas me sentei por 2h30 e li em voz alta 98 páginas de poemas de Alfonsina Storni em Carta Lírica a Otra Mujer, e molha o bico, a metade final da garrafa de vinho me aliviava a garganta | ao terminar, desci às pedras da segunda foto do F., fui bem adiante e escalei algumas pra mais perto do mar, devagar pra não escorregar nas algas, e lá primeiro enchi a garrafa pra lavá-la, despejando o conteúdo em minha cabeça, nuca e mãos; depois enchi de novo, pra preenchê-la, volto escalando as pedras | coloco a garrafa sobre pedras, ao lado da corda, pra tirar uma foto próxima àquela do F. | às 17h e pouco me encaminho pelo 563-Costa de Dentro sentido TIRIO e lá pego o 430-TIRIO–TICEN via Costeira e nela desço pra subir pelo Pantanal e atravesso a UFSC, me chamam à Caverna Bugio, chego em casa 23h e tanto, tomo banho, trabalho mais um pouco e descanso, faço este registro na manhã posterior)

sempre que meu sono demora a chegar
parece que o sol não quer mais raiar
o gole da madrugada
na penumbra é meu archote
água enfrenta o sol lá na salina
sol que vai queimando até queimar
si pienso que fui hecho
para soñar el sol
let me tell you, yeah, yeah (get in trouble)
if you don’t want, you don’t have to (get in trouble)
I don’t live anymore
all the ashes of our days are ether and wood
heaven please send to all mankind
understanding and peace of mind

[poema escrito numa folha com carvão encontrado na Ponta das Campanhas e amarrado à garrafa com retalho cinza de rede de pesca]

--

--

be rgb

escrevo/traduzo/pesquiso/reviso/edito | "mar maior" é 1 ritual poético/performance devocional em que levo garrafas pras gentes c'água do mar e cada relato narra